domingo, 19 de julho de 2020

Ecomuseu de Maranguape. Luta pela memória.

Uma luta pela memória. 



(Acervo Ecomuseu. Tijolos originais da época da construção do Casarão. Século XVIII. 2005)
 
Esta coluna se ocupa em contar a partir das memórias e histórias de toda a gente de Cachoeira, a dinâmica de uma comunidade viva. Não apresentaremos de modo cronológico, mas antes, seguindo o curso do acesso e da recolha dos dados, dos tempos e espaços da experiência do Ecomuseu de Maranguape com Educação Patrimonial, e, sobretudo, procurando compreender como a relação da comunidade local com o seu patrimônio cultural afetam-se mutuamente e, como em conjunto estão  expressa determinações e efeitos do processo histórico.

Será mais como uma colcha de retalhos em que cada um e cada uma de nós costurará como melhor lhe der jeito este tecido social... Vamos juntos.


Uma comunidade. Uma Agenda.


O ano é 2005.

Os anos 2000 chega, e com  ele, as pautas ambientalistas consolidam-se no mundo e no Brasil como tema emergente e como maior visibilidade, sobretudo, devido aos movimentos sociais e aos investimentos governamentais na elaboração de programas que contemplassem cada vez mais as questões ambientais para às políticas para o desenvolvimento (sustentáveis?). A esta política ambiental deu-se o nome de Agenda 21.

O município de Maranguape no ano de 2001 deu inicio ao processo de elaboração de sua Agenda 21 (vide publicação sobre o tema: Agenda 21 local: experiências da Alemanha, do Nordeste e Norte do Brasil. Fundação Konrad Adenauer, 2003.). Concluindo este processo no ano de 2003. 

Convocando todos os setores e segmentos da sociedade. A Fundação TERRA foi uma das organizações não-governamentais do município, convidadas para representar este segmento dos grupos de trabalhos de elaboração de propostas. Foi nesta troca de experiências entre de instituições, lideranças e demais pessoas interessadas na temática que ocorreu o primeiro encontro entre a Fundação TERRA com a Comunidade de Cachoeira, na altura representadas por Nádia Almeida, então dirigente a ONG e Graça Timbó, na altura Diretora da Escola Municipal José de Moura, localizada no distrito de Cachoeira. Deste encontro dois anos depois tem inicio o processo que deu origem ao 1º Ecomuseu comunitário do estado do Ceará naquele distrito. O Ecomuseu de Maranguape.

(Acervo Ecomuseu. Plenária da Agenda 21 local de Cachoeira. Projeção na parede da Capela. 2005)

Desta forma, uma grande mobilização da comunidade de Cachoeira deu-se inicio em 2005. A Fundação TERRA foi convidada para junto com as instituições locais - Comitê Agrícola de Cachoeira, Escola Municipal José de Moura,  e Centro Comunitário de Cachoeira - como também todos os segmentos da população local participassem dos grupos de temáticos de trabalho. 



(Acervo Ecomuseu. Plenária da Agenda 21 local de Cachoeira. População local. 2005)


Na plenária que na altura realizou-se na frente da Capela da comunidade aproveitando a parede para projetar os resultados das discussões dos grupos temáticos. Cerca de 80 pessoas da comunidade e convidados preencheram todo espaço aberto do bonito terreiro da Capela. A plenário elencou as principais propostas para serem apreciadas e votadas. Legitimando-se assim como um processo de natureza comunitária.  


(Acervo Ecomuseu. Plenária da Agenda 21 local de Cachoeira. Graça Timbó e Alexandre Vasconcelos. 2005)


Para contextualiza o processo como comunitário, Graça Timbó e o aluno da Escola local, Alexandre Vasconcelos, apresentaram o funcionamento e a composição dos grupos temáticos da Agenda 21 de Cachoeira. Ambos, abordaram o  importante  histórico das conquistas da comunidade desde a década de 1970 com a criação do Comitê Agrícola de Cachoeira e Centro Comunitário de Cachoeira. (Duas instituições que o Blog se ocupará em breve).


(Acervo Ecomuseu. Plenária da Agenda 21 local de Cachoeira. Virgínia Adélia. 2005)


A plenária da Agenda 21 de Cachoeira, contou com o apoio de convidados, referência da área ambiental, como Virginia Adélia que apresentou o histórico do movimento ambientalista, a experiência da elaboração da Agenda 21 do município de Maranguape realizada em 2003. 



(Acervo Ecomuseu. Plenária da Agenda 21 local de Cachoeira. Nádia Almeida. 2005)


Uma das principais diretrizes aprovadas pela plenária da Agenda 21 de Cachoeira foi a proposta de utilização do importante conjunto histórico arquitetônico do período colonial, construídos em meados do séculos XVIII, composto por um Casarão, uma Capela e um Açude. A ideia inicial foi de transformar este patrimônio arquitetônico em um equipamento cultural. Desta forma, o contributo principal da ONG Fundação TERRA, na altura coordena por Nádia Almeida, a proposta de criação de um Ecomuseu para aquele espaço. Proposta aprovada pela plenária, legitimando o processo comunitário do Ecomuseu de Maranguape desde sua origem.



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Árabes e UNICEF. Um príncipe, um governador e a primeira-dama do Ceará em Cachoeira, Maranguape.

(Trechos do artigo em produção e as fotos das páginas de jornais: 
Nádia Almeida. Museóloga/Ecomuseu de Maranguape). 

O ano é 1982

                                                                              

                                                                                                       
As manchetes dos jornais cearenses noticiaram no mês de março de 1982 a visita de um membro da família real saudita ao estado do Ceará, nomeadamente para inauguração de obras sociais que contaram com o apoio de fundos internacionais como UNICEF e Fundo dos Países do Golfo Árabe, afirmava na altura as reportagens dos  Jornais Tribuna do Ceará e Diários do Nordeste 
   

     

Em 28 de março de 1982, pousa no aeroporto de Fortaleza/CE, a comitiva oficial da Arábia Saudita com o  príncipe Talal Bin Abdul Aziz Al Saud (1931-2018) que juntamente aos representantes do UNICEF e o embaixador da Arabia Saudita no Brasil, Abdalla Hababi, foram recebidos pelo governador do estado do Ceará, na altura, Virgílio Távora (1919-1988) e a primeira-dama, Luíza Távora (1923-1992). 

De acordo com as reportagens, dois helicópteros aguardavam toda a comitiva para dirigem-se à localidade de Cachoeira (pertencia à época ao distrito de Jubaia). Além dos jornalista locais, jornalistas de outros países também cobriram esta aproximação do Brasil e com os Sauditas. Lembrando que o Brasil encontra-se ainda sob o regime ditatorial militar com o General João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), entre os anos de 1979-1985.

A visita do príncipe saudita ao Brasil fazia parte de um roteiro internacional aos países do 'terceiro-mundo' com os mais graves problemas com a fome de modo geral e com fome e os cuidados da infância e da mãe. 
 
Em entrevista que concedera ao Diário do Nordeste, o integrante da realeza saudita, foi indagado sobre a situação do Brasil quando aos "20 milhões de menores carentes" (dados de 1982). Na reposta diplomática do príncipe árabe, chamou mais atenção a informação que este declarou sobre uma reunião com empresários paulistas e que havia sentido a "solidariedade" (aspas minhas)destes, por doaram dinheiro a campanha do UNICEF, intermediado pela LBA (Legião Brasileira de Assistência).    

Vale sabermos que foi durante o período da ditadura militar, em 1977, que a Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi vinculada ao então Ministério da Previdência e Assistência Social, oficialmente como órgão assistencialista. (Fonte: Acervo Arquivístico/UFSM).

Na época da visita da comitiva saudita a presidente da LBA, Léa Leal, teve um imprevisto e não pode acompanhar a comitiva para Maranguape.


O prefeito do município de Maranguape entre 1977 e 1983, Antônio Gonçalves Moreira, recebeu no improvisado heliporto (campo de futebol da comunidade) de Cachoeira, os helicópteros com esta inusitada conjunção de personalidades que chegavam a uma pequena comunidade rural para inauguração de um projeto social, denominado de Centro de Treinamento de Cachoeira (CETEC), sediado no Casarão histórico, hoje, sede do Ecomuseu de Maranguape. 


  

Ao chegaram no Casarão, a comitiva saudita e do UNICEF, mais o governador e a primeira-dama, Virgílio e Luiz Távora, deram inicio à programação de inauguração do CETEC. Um projeto articulado por uma liderança comunitária local, ligado aos movimentos da Igreja Católica que eram apoiados por instituições estadunidense que financiavam ações no campo contra os movimentos considerados populares e/ou de esquerda. 

Professor Elias, como era conhecido, foi uma importante personalidade de Maranguape, que, para além de mobilizar parcerias governamentais para a criação do CETEC, também criou e foi o primeiro professor da  primeira escola da comunidade, foi responsável pela criação na década de 1970 das duas principais instituições de Cachoeira, o Centro Comunitário de Cachoeira e Comitê Agrícola de Cachoeira, de 1972 e 1973 (tema que será abordado mais detalhadamente em outro artigo).

 
Após a programação de apresentações culturais, como danças folclóricas, foi descerrada a placa  em bronze, comemorativa do momento histórico e hoje, integra o acervo museológico do Ecomuseu de Maranguape. Na placa, observam-se as seguintes informações:

1) O projeto do CETEC estava sob a tutela no Ministério da Agricultura;
2) O nome do projeto - Centro de Treinamento de Cachoeira;
3) O Programa foi financiado pelo Programa de Desenvolvimento de Comunidades Rurais (PRODECOR) com recursos doados pelo UNICEF e do Fundo dos Países do Golfo Árabe para o desenvolvimento da Nações Unidas (AGFUN). 


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